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FORMAÇÃO EM PEDAGOGIA, PÓS GRADUADA EM PSICOPEDAGOGIA.

sábado, 30 de abril de 2011

O canto do trabalho

Cancioneiro
Textos sobre música regional; literatura de cordel; cantos de trabalho; poesia popular; desafios; romances; cantos religiosos; quadras, pasquins...




Ao ritmo da música, ao canto dolente como estímulo, o homem lavra a terra, atira o arrastão, colhe o fruto e vende sua mercadoria. É o longo grito tranquilo, de nervos distendidos horas a fio ao sol e ao vento, feito de palavras ingênuas, saídas de gargantas roucas.
O grito do braço forte, da mão calejada, da vida essencial. A melancolia do canto diz frases, não só pela rima. Às vezes elas escapam, por talento ou erudição. Mas, o que se sente tem que ser dito, é de repente, uma frase enorme salta de um verso curto, para fazer uma crítica, para lembrar uma saudade.
E salta feroz em busca da mulher no barraco, do filho na calçada, ou do amigo ao lado. Salta também para as páginas do folclore, como de gerações para gerações. Leva o sangue do músculo, o suor do corpo, o empurrão do mundo. Ele gira, empurrado pela enxada, impulsionado pelas redes no mar e por mínimas tarefas espalhadas por ele. O subtexto destas canções escolhidas do repertório de Fernando Lébeis e temperadas por música fora do nosso alcance, é curto, fala da sobrevivência do homem.
Da colheita da cana
Eu aprantei cana
na resta do sol
prá nascê mió
Nasceu a cana fita
A usina apita
cana nas esteiras
açúcar de primeira
tem a cor bunita...

Do britador
Oi, oi, oi
A moreninha oi;
Ué é trabaiador
A pedra do Corcovado rebentou
Uê é trabaiador
La lagoa sossegou
Uê é trabaiador.

Canto de usina
Colônia, usina, Catendi
Rosadim de seu Mende
Pirangi de seu Cando
Neste mundo eu ando
cumprindo uma sina
Que im pé nas usina
Já tô trabaiando...
Ai, morena morena
Meu amô
Ai morena morena
O que que aí?
Da usina sou cabo de esteira
trabaio nas caldeiras da luz do motor
Seu destilador de esprito do vinho
Entendo um pouquinho do cozinhador.

Do plantador de cacau
Eu entrei por mar adentro
e fiz tanta estrepolia
que o rei mandou me chamar
pra casar com sua fia.
O dote que o rei me dava
Oropa, França, Bahia
País de grande valor
Terra de mil maravilha

Eu fui e lhe respondi
que era pouco não queria
que eu voltava pro sertão
pra casar com a Maria
Que é a única pessoa
Que meu coração pedia.

Pregões
Fita, renda e botão
renda, botão e fita
compra aqui do Jorge
que você fica bonita.
*
Olha a laranja pera
como esta não há outra não
é igual à morena
que é uma flor ainda em botão.
*
Quem quiser comprar suspiro. ai!
Vai em casa que eu dou dado
Eu tenho um pé de suspiro. ai!
Que dá suspiro dobrado. aí!
*
Batata doce tá quentinha
Oh! que beleza de sobremesa
Dona Tereza, traz a bandesa
e leva a sobremesa
Que beleza!
*
Senhora dona de casa
venha na janela aperceá
eu tenho empada quentinha
camarão a recheá.
(Sem indicação de autoria. "O canto do trabalho". Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 01 de maio de 1964)

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